Como matar profetas hoje
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste” (Mt 23.37). Esta lamentação de Jesus Cristo nos chama atenção para uma prática comum nos dias bíblicos: matar os profetas de Deus.
Lucas testemunha isto, registrando uma pergunta de Estevão: “A qual dos profetas não perseguiram vossos pais?” E então Estevão afirma: “Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e homicidas” (At 7.52).
Se foi assim nos dias antigos, deveria ser diferente hoje? Ou melhor: é diferente hoje? Qual a posição do mundo em relação aos verdadeiros profetas de hoje? E qual tem sido a posição da igreja? Especialmente da igreja visível, institucional, estruturada em denominações. Seria incorreto dizer que muitos profetas de hoje, no seio da própria igreja, têm sido “assassinados”? Não é o que acontece com os que proclamam a vontade de Deus, denunciam o pecado, criticam os interesses politiqueiros e exortam à santidade?
É claro que a maneira de se silenciar um profeta mudou! Não matamos mais nossos profetas, no sentido literal, pois nossas leis não permitem. Mas os matamos de outras formas. Neste tempo de frieza e apostasia, muitos homens e mulheres de Deus estão sendo rejeitados por causa da sua mensagem de justiça.
Talvez possamos pensar diversas formas de matar profetas, das que são comumente praticadas hoje. Podemos identificar desprezo, questionamento da credibilidade de suas palavras, questionamento da suas formas de fazer e dizer, rejeições públicas e tantas outras formas que levam hoje muitos homens de Deus a condições de morte em seus ministérios proféticos. Muitos homens e mulheres, jovens ou não, são desestimulados pela própria igreja, a interesse de manutenção do modelo que melhor atende aos interesses dominantes.
E quem seriam os “assassinos” de profetas? Nos dias antigos eram os reis, os sacerdotes, os políticos, os leigos, todos se viam no direito de julgar e executar o julgamento. Eram aqueles que desejavam ouvir apenas as mensagens que lhes eram convenientes, rejeitando e desprezando o que Deus realmente desejava falar. Eram pessoas com os corações duros e insensíveis, com suas mentes dirigidas pelo orgulho. E quem seriam os modernos matadores do verdadeiro ministério profético? Não teriam as mesmas características?
Não teríamos hoje também os profetas da conveniência, que de fato atendem ao interesse do sistema? Claro. Existem “profetas” que professam aquele evangelho sem compromisso, focado nos favores terrenos, que ignoram valores como o caráter, a ética, a submissão a Deus e a sua Palavra. Estes são aplaudidos, nos levando até mesmo a questionar a lógica de Jesus quando advertiu: “Ai de vós, quando todos os homens vos louvarem! porque assim faziam os seus pais aos falsos profetas” (Lc 6.46).
Mas Deus ainda procura homens que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24). Precisamos, mais do que nunca, de homens santos que falem as verdades acerca da sã doutrina, da santidade, do caráter cristão. Que falem sobre a abominação em altares, que falem contra a corrupção que grassa o pós modernismo e que falem não aquilo que todos querem ouvir, mas aquilo que todos precisam ouvir. Continuaremos a ter matadores de profetas, mas não podemos prescindir dos profetas de Deus.
Na verdade, aos cristãos de hoje não sobram muitas opções. Jesus disse: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mt 12.30; Lc 11.23). Só há dois caminhos: um espaçoso, que conduz a perdição. Outro apertado, que conduz a vida eterna. Ou atendemos a preceitos bíblicos tais como “exortai-vos uns aos outros” (1 Tm 5.11; Hb 3.13), “admoesteis os insubordinados” (1Ts 5.14), e outras, ou, no mínimo, estaremos na condição de cúmplices dos modernos matadores de profetas, se não de partícipes, como aqueles que apedrejaram Estevão, somente porque falava de coisas que procediam de Deus (At 7).
Muitas mensagens estranhas circulam no mundo e na igreja. E muitas já estão no coração de vários de nós. Quão pouco a Bíblia é usada como referência. Muitos já não sabem o que é caráter cristão, submissão, Bíblia, plano de Deus, vontade de Deus e estão vivendo as muitas verdades de nosso tempo e não de Deus. E a cada dia este tipo de situação avança sobre muitos ainda incontaminados. Por ser tão séria a questão, Jesus chegou a perguntar: “Digo-vos que depressa lhes fará justiça. “Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8).
Não deixemos morrer os profetas de hoje. Não ignoremos suas mensagens; não desprezemos seus ministérios; não deixemos de dar ouvidos aos conselhos e admoestações daqueles que Deus coloca em nossas vidas para nos exortar. Não alimentemos as críticas destrutivas e não os impeçamos de falar. Não pratiquemos a calunia moral. Antes, sejamos instrumentos de Deus, falando a sua Palavra e vivendo seus valores. A Igreja precisa de profetas de Deus.
Por Samuel Alves