Mas nenhuma palmadinha?
Conforme divulgado na edição 2174 da Veja, lançada em 21 de julho de 2010, em comemoração ao aniversário de 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou no dia 14 de julho de 2010 um projeto de lei que proíbe pais e mães de aplicarem castigo físico para corrigir a rebelião e o mau comportamento dos filhos. Tal castigo será tratado como “agressão física”, invertendo os papéis e colocando os pais sob a ameaça de castigo estatal. Mas o que a Bíblia diz sobre isso? Esta lei está em consonância com a vontade de Deus?
Décadas atrás, “bater” nas crianças era uma prática comumente aceita. Nos últimos anos, o castigo físico foi substituído por “parar em um canto para pensar” e outros castigos que não envolvem disciplina física. É claro, que uma criança jamais deve ser agredida ao ponto de lhe causar sérios danos físicos. Todavia, de acordo com a Bíblia, a disciplina física, apropriada e controlada, é algo bom e contribui para o bem estar e correto treinamento da criança.
Na Bíblia, encontramos várias passagens que defendem o que estamos dizendo. “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13,14). A palavra vara (Rhabdos) recebe grande variação de significado no AT. Um ramo (Gn 30.37; Ez 19.11); um suporte levado por viajantes (Gn 32.10; Mc 6.8), pastores (Ex 4.2; Sl 23.4; “bordão”), pessoas idosas (Zc 8.4; Hb 11.21), e homens de posição (Gn 38.18). É empregada, também, na Bíblia como símbolo de autoridade tanto humana (Jz 5.14) quanto divina (Ex 4.20). Por fim, a vara pode ser empregada como instrumento (ramo) de castigo (1Co 4.21), que é o sentido empregado pelo autor de provérbios no texto citado.
Existem vários outros textos que, também, apóiam a disciplina física (Pv 13.24, 22.15, 20.30). O conceito bíblico é que a disciplina é boa, pois contribui para que sejamos pessoas produtivas, e é muito mais fácil se aprendido quando formos mais jovens. Crianças que não recebem disciplina crescem rebeldes, sem respeito à autoridade, e como resultado, obviamente não estarão dispostas a prontamente obedecer e seguir a Deus. Aliás, o próprio Deus usa a disciplina para nos corrigir e conduzir ao caminho certo e para encorajar o arrependimento por nossos atos (Salmos 94.12; Pv 1.7, 6.23, 12.1, 13.1, 15.5; Isaías 38.16; Hebreus 12.9).
Moisés chama a atenção dos pais para a responsabilidade de educarem os seus filhos: “Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os preceitos que o Senhor teu Deus mandou ensinar-te, a fim de que os cumprisses ... para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e para que se prolonguem os teus dias. Ouve, pois, ó Israel, e atenta em que os guardes, para que te vá bem... E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”. (Dt 6.1-9). Educar os filhos segundo o padrão bíblico só traz benefícios para os mesmos, inclusive a promessa de dias prolongados.
Mas o problema é que muitas vezes os pais são excessivamente passivos ou excessivamente agressivos ao criar seus filhos. Os que não crêem na “disciplina física”, às vezes não têm a capacidade de corrigir e disciplinar de forma correta, provocando a desobediência e insubordinação dos seus filhos. Isto, no futuro, será maléfico para suas vidas. “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe” (Pv 29.15). E há também alguns pais que não compreendem bem a definição bíblica de disciplina (ou podem ser, simplesmente, pessoas abusivas) e a usam para justificar o abuso e maltrato a seus filhos.
A disciplina é usada para corrigir e treinar pessoas a caminharem na direção correta. “E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12.11). A disciplina de Deus é feita com amor, assim como deve ser a disciplina entre os pais e o filho. A punição física jamais deve ser usada para causar dano permanente ou dor, mas é aceitável que se corrija fisicamente, de modo equilibrado, para ensinar à criança que o que ela fez foi errado. Mas isto jamais deverá ser usado para dar vazão a nossa ira e frustrações, ou ser feito de forma incontrolada.
“E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Criar um filho na disciplina e instrução aprovadas pelo Senhor” inclui disciplina física controlada, corretiva e em amor.
Por Samuel Alves