O CRENTE NÃO DEVE SER OMISSO
É natural que vários, nos círculos evangélicos, tenham resguardos quanto a um relacionamento mais próximo com o meio político. Lorde John Acton, um historiador liberal inglês do século XIX, disse que o poder absoluto corrompe. E vemos este ditado se fazendo verdadeiro na vida de muitos poderosos. Porém, não foi sempre assim, e não tem que ser assim para os que amam a Jesus do jeito bíblico.
Nós somos seres políticos. Pode-se definir política como a ciência da governação de um Estado ou Nação e também uma arte de negociação para compatibilizar interesses. O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polisque que designa aquilo que é público. O significado de política é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público.
Os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó eram governantes de suas clãs. Com esta qualidade se relacionavam com reis e líderes de outras clãs de suas épocas. Um dos filhos de Jacó, José, se destaca como Vice-Rei do Egito, com poderes para gerir todos os recursos do Estado naqueles tempos. Foi um homem de Deus, usado para a preservação da vida, especialmente, da linhagem do Messias.
Moisés, um homem preparado para o cargo de faraó foi o grande líder hebreu de todos os tempos, um político por excelência. Teve um auxiliar próximo, que o substituiu, Josué, e estes, assim como todos os governantes de Israel, incluindo o Rei Davi, Rei Salomão, Rei Ezequias, e muitos outros homens de Deus que alçaram a condição de juízes e reis, foram gestores públicos, se relacionando com nobres, príncipes, governantes estrangeiros, muitos interesses, etc.
Histórias como a de Daniel e seus três amigos (Dn 1.5-20) e, também, de Esdras, entre outras, chegam a ser emocionantes, de tanta fidelidade a Deus, como homens públicos.
O tema se faz ainda mais relevante quando consideramos que toda autoridade vem de Deus (Watchman Nee - Autoridade Espiritual). Então por que não ocuparmos espaços que de fato pertencem a Deus, e deveriam ser ocupados por pessoas realmente comprometidas por Deus.
O Apostolo Paulo entendia bem suas obrigações e direitos.
Exigiu que os magistrados de Filipos viessem solta-lo, fazendo reconhecido que tinha direitos de cidadão romano (At 16.35-39). Mais tarde apelou para Cezar (At 25.11), algo só possível a um romano esclarecido. E ensinou, em dias de Nero, que toda a autoridade procede de Deus (Rm 13).
A partir de nossas famílias existem reconhecimentos de pessoas com mais autoridade, que exercem uma liderança no seio daquela família. São os políticos da família.
Na igreja não é diferente. Temos nossas escolhas de líderes. Ou a igreja escolhe, ou o líder da igreja nomeia pessoas que estarão agenciando as questões inerentes à atividade da igreja, buscando representar os interesses de todos.
Às vezes somos levados a um preciosismo absurdo, de nos esquecermos que a política está dentro de qualquer relação humana, inclusive na igreja, na denominação, no meio evangélico como um todo e nem sempre com regras claras e abertas. Quantos já não ouviram de situações em que alguma coisa foi tramada às escuras ou que uma sucessão foi manipulada, uma eleição teve seus resultados conduzidos para atender a interesses de uma pessoa ou um grupo dominante. Na verdade tanto na eleição de vereadores, deputados e outros cargos da vida pública, como nas definições de nossas lideranças locais e denominacionais há a necessidade de sérios envolvimentos de cada servo de Deus, exatamente porque uma das formas de a vontade de Deus se estabelecer no mundo e na igreja visível é através da participação dos que realmente servem a Deus.
Se os servos de Deus se isolarem de processos que pertencem a Deus, estarão deixando de cumprir com sua parte, e sujeitando o mundo ao comando de pessoas e processos que não partiram do coração de Deus. É certo que Ele continuará sendo o Senhor da História, mas os omissos serão isto: omissos em relação a vontade de Deus e à oportunidade de serem instrumentos nas mãos de Deus.
Cobrar perfeição de pessoas que se envolvem com a política, sejam pastores ou leigos, é algo que só poderemos fazer quando nos apresentarmos para os apoiarmos espiritual, moral e politicamente. Se eles tiverem o poder de falar e decidir com nosso apoio, certamente não terão as mesmas necessidades de conchavos, e negociatas, como precisam fazer os que não têm apoio e presença da população com eles, de modo mais próximo.
Nos também somos responsáveis pelo mundo em que vivemos, inclusive pelas condições a que somos submetidos. Não faz muito, em um de nossos municípios, uma autorização para a construção de uma igreja limitou sua altura (pé direito) a 3 (três) metros. Isto não é altura de igreja, mas de buteco. Como vamos nos fazer respeitados? As regras para com ruídos, problemas com estacionamento, procedimentos para construção de templos, e coisas assim parecem ser muito mais rigorosas e fiscalizadas em relação às igrejas, que em relação aos estabelecimentos voltados para aquelas práticas que não apoiamos.
Em mais um exemplo da necessidade de nosso envolvimento, a liberdade de expressão dos que praticam ou simpatizam com a homossexualidade estão garantidas e avançam para uma mordaça na boca dos que defendem que isto é pecado. Aqueles grupos podem quebrar carros, praticar violências e aterrorizar indivíduos, se manifestar de modo agressivo, etc. Mas nós, claro, devemos continuar ordeiros, contudo devemos cuidar para que nossas leis não venham a militar contra nossa liberdade de expressão. E o futuro, sem intervenções sérias e comprometidas com Deus, poderá reservar coisas que poderíamos evitar numa ação política contundente, com escolha e apoio a homens sérios e comprometidos com Deus.
Garantia de que acertaremos sempre, não há. Como não há garantias em relação aos pastores e líderes que temos. Acertamos na maioria dos casos, mas há decepções. Saul foi uma decepção. Judas foi uma decepção. Ananias e Safira foram decepções. As vezes crentes ao nosso lado, e em muitos casos, nós somos decepções. Mas nem por isto Jesus deixou de confiar nos homens. Se ele confia e se esforça para que sejamos um projeto que dê certo, com certeza nós precisamos amadurecer nossa participação sincera e comprometida em relação à política, em todos os seus níveis.
Somos uma denominação com pequenas igrejas. Mas só em Goiás somos mais de 10 mil membros. Em Goiânia temos aproximadamente 50% disto. Se amadurecermos nossa forma de participar do meio político temos condições de escolher pessoas que possam ter compromisso com Deus e ser pastoreadas por nossos líderes espirituais, de modo a podermos influenciar decisões importantes através destas pessoas.
Jamais poderemos dizer, por exemplo, que um deputado vai legislar só para nós, mas se este deputado, que será deputado de todos, seguir princípios bíblicos, e ajudar a chamar à atenção para as necessidades da igreja e do povo de Deus, estaremos avançando. Sem isto, com certeza as coisas não estarão melhores.
Outros grupos evangélicos já estão a frente nesta questão. Nos agregando a uma participação madura, com certeza todos poderão atender melhor aos interesses do Reino de Deus. E se nos omitirmos, as coisas estarão acontecendo como querem os infiéis. A decisão é nossa. E com certeza, podemos avançar para realizar o melhor.
Pr. Samuel Alves