SOBRE AS TATUAGENS
Pois bem! E sobre as tatuagens? O tema não é simples, mas exige uma reflexão acurada e ampla. Vamos a ele.
Duas observações devem preceder nosso estudo. A primeira tem a ver com a condição de quem praticou tatuagens em seus corpos antes da conversão; ou mesmo já após estar na igreja. É essencial neste caso que compreendam o que a Bíblia ensina sobre o tema e, tendo compreendido o erro, busquem se arrepender e não criem uma ideologia que a defenda contra o claro ensino bíblico. Quem oculta seus pecados não prospera; quem os confessa e os abandona recebe misericórdia (NVT Pv 28:13).
A segunda observação é que o que se segue tem valia tão somente para aqueles que se decidiram a crer na Bíblia como Palavra de Deus, ou seja, revelação da sua vontade. Pela fartura de evidências bíblicas que serão apresentadas, é racional, e portanto se espera, que os verdadeiros crentes rejeitem as falácias que relativizam o ensino bíblico, em benefício da realidade de que há uma só verdade, e jamais que “cada um tem a sua verdade”, sob pena de a Palavra não mais ter qualquer significado válido. Então este é um texto para aplicação na vida de pessoas crentes, comprometidas com a Palavra de Deus.
Adotamos assim o entendimento de que para os cristãos, que já abandonaram sua antiga vida (2 Co 5.17), negando-se a si mesmos (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23), e que agora vivem exclusivamente para glorificar a Deus (1 Co 10.31), tanto não é relevante nossos interesses atinentes ao corpo terreno, quanto a obediência à Palavra de Deus é essencial. E nesta Palavra há a ordem de obedecermos à própria Palavra e inclusive aos nossos pais e pastores.
Em relação aos pais a Bíblia é contundente, orientando que haja a obediência (Ef 6.1-3). Para os que ainda estão sob os cuidados dos pais, com eles vivendo, ou seja, que ainda não os deixaram em função do casamento, este é um imperativo. E muitos pais com certeza não aprovariam que seus filhos fossem tatuados.
Como provavelmente não lhes serão apresentadas justificativas baseadas no exercício da vontade e glorificação do nome de Deus, há que se cuidar da obediência, sob pena de confronto direto com algo ordenado pela Palavra de Deus. Mas no caso de pais permissivos, ainda há que se considerar os outros aspectos.
Em relação aos pastores, a Bíblia diz, em Hb 13:17: Obedecei a vossos guias (pastores), sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.
Leve-se ainda em consideração que parte significativa dos líderes espirituais que nos rodeiam estarão dando orientações contrárias à diversas práticas, inclusive quanto a que um servo de Deus se tatue ou se deixe tatuar. E igualmente ao dito acerca dos pais, quando alguém tem líderes permissivos, em contrário ao texto bíblico, a escolha saudável é ficar com a Palavra de Deus. Caso contrário será cultivada a própria morte, através daquilo que Paulo adverte em 2 Tm 4.3,4 (NVT "3 Pois virá o tempo em que as pessoas já não escutarão o ensino verdadeiro. Seguirão os próprios desejos e buscarão mestres que lhes digam apenas aquilo que agrada seus ouvidos. 4 Rejeitarão a verdade e correrão atrás de mitos").
Muitas coisas não são textualmente proibidas pela Bíblia, mas são proibidas pela igreja, tendo em vista o bem de todos. Um exemplo é a bebida alcoólica. E neste caso vale a obediência.
Paulo precisou lançar mão de princípios neste sentido, para dizer de nossa responsabilidade com os outros, quando ensinou: Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si (Rm 14.7). E continua ensinando que se pela tua comida se entristece teu irmão, já não andas segundo o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu. (Rm 14.15). Portanto, considerando a origem da prática de se tatuar, e quem são seus maiores praticantes, estamos falando de algo que, em nosso contexto, ainda escandaliza e choca a muitos. E só isto é suficiente para um servo de Deus, que vive o amor de Deus, se abster de se tatuar.
Outro aspecto essencial é que a Bíblia é enfática ao nos falar da distância necessária das coisas “que há no mundo”. E a tatuagem sempre fez parte destas coisas “que há no mundo”. Portanto é preciso ouvir o Apóstolo João quando recomenda: Não ameis o mundo nem o que nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo: as paixões da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens não provém do Pai, mas do mundo (1Jo 2.15,16). E Tiago alerta: Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tg 4;4).
Dever-se-á considerar ainda que tudo que fizermos, que não seja dirigido pelo Espírito de Deus, é inaceitável diante de Deus. Assim ensina o apóstolo Paulo: NVT Rm 8:5 Aqueles que são dominados pela natureza humana pensam em coisas da natureza humana, mas os que são controlados pelo Espírito pensam em coisas que agradam o Espírito. 6 Portanto, permitir que a natureza humana controle a mente resulta em morte, mas permitir que o Espírito controle a mente resulta em vida e paz. 7 Pois a mentalidade da natureza humana é sempre inimiga de Deus. Nunca obedeceu às leis de Deus, e nunca obedecerá. 8 Por isso aqueles que ainda estão sob o domínio de sua natureza humana não podem agradar a Deus."
Assim restaria a pergunta: será que alguém, em sã consciência, poderia afirmar que o Espírito Santo o dirigiu a fazer alguma tatuagem? Esta tatuagem teria como finalidade glorificar o nome de Deus? Esta prática estaria passando pelo crivo da obediência aos pais e aos líderes espirituais? Esta prática serviria a edificação da igreja de Cristo Jesus na terra? Se a resposta a cada uma destas perguntas for “sim”, então estaria ótimo, mas sabemos que resposta é outra.
E para os que dizem que a Bíblia não se manifesta sobre o tema, consideremos que há sim uma referência específica quanto a tatuagem, em Levítico 19.28: Não fareis cortes no corpo como sinal de lamento pela morte de alguém, também não fareis nenhuma tatuagem. Eu Sou Yahweh (KJA). Outra versão diz: Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos; nem no vosso corpo imprimireis qualquer marca. Eu sou o Senhor (JFA).
A salvo se pretendamos ignorar os textos bíblicos que não atendem a nossos interesses, este é suficientemente claro para nos proibir de marcar nosso corpo. Assim, estando em nós, devemos evitar.
É possível que no interesse de defender a prática do tatuar alguém argumente que no texto de Levítico o contexto trate de situação específica, envolvendo adivinhação, feitiçaria e homenagem a mortos, coisas que o povo de Deus jamais deveria se envolver. E isto é certo, mas pergunto: e quais são os motivos que levam os que não servem a Deus a se tatuar? Não seriam eles exatamente praticantes da idolatria, desde a egolatria, idolatria si mesmos, passando por idolatria a suas músicas e cantores, suas práticas pecaminosas e criminosas (muito comum nos presídios e gangues), seus amores (nomes de amantes, filhos etc.) e seus outros ídolos? Que diferença há? É razoável que um cristão os siga nestas suas práticas?
Observe que se considerarmos que a Bíblia afirma que a rebelião é como o pecado de feitiçaria (1 Sm 15.23), não há diferença entre os praticantes de feitiçaria dos dias em que a ordem de Deus foi registrada e nos dias de hoje, onde a prática da tatuagem é exatamente uma marca revolucionária, de auto libertação de qualquer tipo de “bom governo”, seja dos pais, da igreja e dos que são alcunhados como “moralistas”.
E por mais que os contenciosos possam buscar aplicações culturais para a questão, estamos falando de marcas e condições presentes em variadas culturas, por motivos igualmente comuns.
Precisamos tem em mente que nosso Deus não muda (Ml 3.6), não havendo nele nem sombra de variação (Tg 1.17) e sua Palavra permanece para sempre (1 Pe 1.25). Tal condição deve nos impor suficiente temor, especialmente porque a verdadeira obediência consiste em fazer o que somos ordenados a fazer (obediência ativa) e não fazer o que não somos ordenados a fazer (obediência passiva).
E para aqueles que buscam referência no Novo Testamento, é importante que entendam que é um erro menosprezar o Antigo Testamento, vez que é a ele que os próprios Apóstolos se referem quando falam das Escrituras.
A Bíblia então usada por Jesus Cristo e pelos Apóstolos era o Antigo Testamento. O Novo Testamento, que se completou no final do primeiro século, só foi reconhecido como um conjunto inspirado a partir do segundo século da era cristã. Além dos registros biográficos, históricos e proféticos que traz, é, essencialmente, uma aplicação, um esclarecimento, nas questões que foram levantadas nos dias da igreja primitiva.
Por isto é essencial que se compreenda que a Bíblia toda é a Palavra de Deus. Quando o Apostolo Paulo recomendou a Timóteo que toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver; a fim de que todo homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar todas as boas ações (2Tm 3.16 e 17), ele tinha em mente o Antigo Testamento, que era a Escritura que ele conhecia. Assim o doutrinador do Novo Testamento estava validando ou dando eficácia para as Escrituras de seu tempo, que era o Antigo Testamento. Nós não temos autorização para desconsiderar algo que o próprio Novo Testamento valida.
É importante que ouçamos o próprio doutrinador do Novo Testamento, falando do Antigo Testamento, Bíblia de seu tempo: Porquanto tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo provenientes das Escrituras, mantenhamos firme a nossa esperança (Rm 15.4).
São muitos os ensinos neste sentido. Não podemos correr o risco de mal compreender os desígnios de Deus, desvalorizando a Bíblia de Cristo e dos Apóstolos. Destes, Pedro criticou os que distorciam as Escrituras de seu tempo, o Antigo Testamento, quando recomendava os ensinos de Paulo: Ele escreve do mesmo modo em todas as suas epístolas, discorrendo nelas sobre esses assuntos, nas quais existem trechos difíceis de entender, os quais são distorcidos pelos ignorantes e insensatos, como fazem também com as demais Escrituras para a própria destruição deles (2Pe 3.16). Não façamos parte deste grupo.
Também é importante que estejamos atentos à absoluta importância das motivações e sua correta vinculação com a própria vontade de Deus e sua glorificação. Por que se deixar tatuar? É por incentivo de quem? É para se parecer com quem? É por que os demais em torno de nós são tatuados? Em que isto tem a ver com o exercício da fé cristã? Vai edificar quem?
Alguém pode responder que é para dar testemunho de Deus em sua vida? Mesmo que esta seja a razão, há muitas formas de dar este testemunho. Todas já estão sendo praticadas à exaustão?
Outro pode dizer: Quero tatuar o nome “Jesus” em meu corpo, para que todos saibam de meu compromisso com Ele. Ora, mas não é esta a identidade que a Palavra ensina, mas sim o amor, a fidelidade, a submissão, as boas obras, os frutos, e coisas assim. E quando Paulo fala que trazia em seu corpo as marcas de Cristo (Gl 6.17) dizia de suas feridas, suas cicatrizes deixadas por um tratamento cruel sofrido em função de sua fidelidade a Deus.
Em maior instância precisamos estar atentos ao engano em nossos corações (Jr 17.9), para vasculhar qual nossa real motivação. E testar seu verdadeiro propósito, sua verdadeira razão. E não basta que alguém diga “mas eu creio”. Uma fé que não esteja alicerçada nas Escrituras, é uma fé errada e não levará a um final feliz. Nossos pensamentos e crenças, sem fundamentação bíblica, não servem como justificativas diante de Deus.
Além de considerados todos os pontos acima, precisamos estar atentos a duas práticas essenciais ao cristão. A prática ensinada em 1 Co 10.31, em sua regra de que seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus, onde o propósito é essencial em nossas ações e decisões.
A outra, que repetimos, é a recomendação de Paulo, que afirma que os que vivem segundo a carne têm a mente voltada para as vontades da natureza carnal, entretanto, os que vivem de acordo com o Espírito, têm a mente orientada para satisfazer o que o Espírito deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz. Porque a mentalidade da carne é inimiga de Deus, pois não se submete à Lei de Deus, nem consegue fazê-lo. Os que vivem na carne não podem agradar a Deus. E acrescenta: Porque, se viverdes de acordo com a carne, certamente morrereis; no entanto, se pelo Espírito fizerdes morrer os atos do corpo, vivereis. Porquanto, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. (Rm 8.5-8, 13-14).
Com certeza muitos outros pontos poderiam ser abordados, tais como nosso corpo ser templo do Espírito Santo (1 Co 6.19) e os danos que a tatuagem traz a este templo, inclusive estético; o propósito implícito de chamar a atenção para o corpo, algo que foge à modéstia recomendada pela Bíblia; o necessário cuidado com a correta aplicação dos recursos financeiros que Deus nos dá; nossa própria luta de consciência, que por si é um forte apelo ao cuidado e abstenção; as manifestações de rebeldia implícitas; a inconveniência, apesar da licitude (1 Co 6.12), o que em si anula esta licitude (Paulo estava fazendo uma crítica a um ditado da época); e outros mais. Mas seria exaustivo.
Amados, fomos tirados do mundo para a salvação. Não sigamos o mal exemplo daqueles que, com a oportunidade de libertação do mundo e de suas práticas, não quiseram obedecer a Deus, antes o rejeitaram, e em seus corações voltaram ao Egito (At 7.39).
Pelo contrário, ouçamos mais uma vez o Apóstolo Paulo, quando pela inspiração do Espírito Santo nos diz: Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis (coloqueis na forma) a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1,2).
No Senhor,
Bp. Samuel Alves
11/2016, revisada em 03/2023.